Arquivo para maio, 2011

Destino.

Posted in Dos desvarios. on 25/05/2011 by adrianatribal

“Conta pra mim de onde a gente se conhece. De onde vem a sensação de que sempre esteve aqui, quando eu sei que não estava. Conta por que nada do que diz sobre você me parece novidade, como se eu estivesse lá, nos lugares que relembra, quando eu sei que não estive. Conta onde nasce essa familiaridade toda com os seus olhos. Onde nasce a facilidade para ouvir a música de cada um dos seus sorrisos. Onde nasce essa compreensão das coisas que revela quando cala. Conta de onde vem a intuição da sua existência tanto tempo antes de nos encontrarmos.
Conta pra mim de onde a gente se conhece. De onde vem essa repentina admiração tão perene. De onde vem o sentimento de que nossas almas dialogavam muito antes dos nossos olhos se tocarem. Conta por que tudo o que é precioso no seu mundo me parece que já era também no meu. De onde vem esse bem-querer assim tão fácil, assim tão fluido, assim tão puro. Conta de onde vem essa certeza de que, de alguma maneira, a minha vida e a sua seguirão próximas, como eu sinto que nunca deixaram de estar.”

(Ana Jácomo)

Unidade.

Posted in Dos desvarios. on 22/05/2011 by adrianatribal

Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo
Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

Só a lua…

Posted in Dos desvarios. on 10/05/2011 by adrianatribal

Linha de luz nos olhos fechados, despertar ao beijo do Sol. Ela sorri, Lua mansa e outonal, Crescente arco a flutuar pelos dias e noites de cores raras. Mistério há e não há, sejam brotos do plantio, sejam imprevisíveis. Posto e exposto está, porém, grau a grau até se fazer Cheia. Hipnótica, cai quem quiser em suas cantigas de autoenganar, ondulações do véu de Maya. Posto e exposto está, clara aclara. Lua caçadora, pauta os passos para quem empreende artes e ofícios, alimenta os seus. Generosa, compartilhará feitos, reflexos e efeitos na tela do céu. Exigente, doará tempo e espaço a quem quer dar o seu melhor, mas anotará os débitos no ponto mais alto do quadro. Lua das escolhas, costureira das colheitas. No bojo dos eventos, no cadinho do alquimista, o caminhante reorienta seu navegar e imprime suas estrelas no mapa do chão.    

(Amanda Costa)