Depois, não houve mais nenhum medo na ponte. O pior, o incrível havia ocorrido. Uma freira caíra do viaduto Príncipe Eduardo antes mesmo de ele ser sequer terminado. Os homens cobertos de serragem ou de pó de granito seguravam as mulheres apertando-as contra si. E o comissário Harris, na extremidade da ponte, olhava para a extenção daquele caminho louco. Esse era seu primeiro filho e já era um assasssino.
O homem, no ar, sob a arcada central, viu a forma cair em sua direção, compreendendo naquele mesmo segundo que sua corda não conseguiria sustentar o peso dos dois. Estendeu o braço a fim de segurar o vulto, enquanto a outra mão agarrava a beirada do tubo de metal acima dele, para atenuar o súbito tranco na corda. O novo peso forçou e desprendeu do ombro o braço que segurava o tubo, e então o homem gritou, e portanto quem quer que tenha ouvido seu grito lá em cima deve ter imaginado que a voz vinha da pessoa que havia caido. O cabresto de cordas deu um forte solavanco, empurrando o peito para a garganta. O braço direito, agora, era só dor – mas o sentido de oportunidade da sua mão fora impecável, um dádiva do hábito, e no instante seguinte ele se viu segurando ardorosamente contra o próprio corpo a figura que havia caido.
Viu que era uma ave de roupagem negra, um rosto branco de moça. Viu isso sob a luz que jorrava inconstante de um lampião treze metros e meio acima.Ficaram seguros no cabresto, rodopiando sobre o vale,seu braço quebrado pendurado inerte ao lado do corpo, segurando a mulher com o outro braço. O corpo dela se achava em estado de choque, seus olhos enormes fitando o rosto de Nicholas Temelcof.
Grite, por favor senhora… Por favor, grite. Mas ela não podia… Ela estava em estado de choque, seu rosto brilhava como uma mulher febril.
…
(estavam sentados no chão, recostados na parede no canto do quarto, a boca dela junto ao mamilo dele, a mão dela mexendo devagar no pau dele . Uma ciência complicada, o corpo inteiro aprisionado ali, um navio dentro de uma garrafa. Vou gozar. Goze na minha boca. Movendo-se para a frente, os dedos dele puxando o cabelo dela para trás como seda rasgada, ele ejaculou, desaparecendo dentro dela. Ela curvou seu dedo, fazendo sinal para ele, e ele abaixou-se e pôs sua boca na boca dela. Ele apanhou aquilo, o elemento branco, e os dois ficaram passando de um para o outro, até que já não havia mais nada, até que eles não soubessem mais quem tinha ficado com aquilo, como um planeta perdido em algum lugar do corpo.)
(Michael Ondaatje, em Na pele de um leão.)