Nós somos muitos. Nós, os que caimos do disco voador. F. caiu, L. caiu. P. caiu… Cyber caiu também, A. caiu, J. caiu, Frida também caiu…. Alguns já voltaram, alguns vão logo, outros vão continuar clamando e negando sua procedência. Alguns nomes eu posso usar, alguns só eu conheço, só alguns me conhecem. Nós caimos quase sempre, quando não caimos, fomos jogados ou nos jogamos.
Todos nós costumamos dizer que esperamos a nave mãe, que estamos prontos pra voltar, que não somos daqui, e todos nós sabemos que ela está ali, estacionada na esquina, próxima aos trilhos, à distancia de alguns comprimidos, um estampido, laços, laminas.
Nós não olhamos, falamos sobre a nave mãe da mesma forma que falamos com crianças, usando a terceira pessoa, nós falamos sem assumir que sabemos o quão perto chegamos do embarque às vezes, Ela, a nave mãe, vai estar sempre ali, nós temos ciência disso, nós sabemos.
Ela nos quer de volta, seus pintinhos, nos quer no seu ninho, nos presenteia com viuves, rasgos, pontes caídas, frio, calor, palavras afiadas, coisas que voam, coisas que rastejam pra baixo de nossas camas à noite, nos presenteia, com essas coisas que parecem daqui, nos prometendo que lá, no paraíso dos discos voadores, ninguém e nada, nunca acaba.
Nos somos alegres, nós rimos de nós mesmos, nós aprendemos desde muito cedo a fazer piada de nossa abdução interrompida, a rir de tudo isso, a olhar mais pra frente, a dobrar mais uma esquina, atravessar mais uma rua de olhos fechados, a evitar as rachaduras nas calçadas. Nós rimos e fazemos rir, e é só por isso, por essa função de alegria forçada que não fomos reivindicados nem reivindicamos nosso pedaço de paraíso lá no céu dos discos voadores.