Arquivo para março, 2010

Nas Tuas Mãos

Posted in Livros on 21/03/2010 by adrianatribal
  

   "A tua cabeça rodou na direção do meu rosto, os teus olhos fecharam-se e tua boca avançou para a minha, através de uma lenta rota de luz, risos e lágrimas. Quando os teus dentes morderam os meus lábios alguém gritou "Bravo!" como na ópera e eu soube que nunca uma rapariga havia sido assim mada. "Espere", dizias tu, "connosco há-de ser diferente". Travavas-me o corpo todo com um beijo na palma da mão, os meus dedos agarravam-se, entontecidos, à curva funda das tuas pálpebras, e desse canto macio de pele eu inventei um homem para sonhar até ao dia branco da nossa eternidade. (…)

(Inês Pedrosa, em Nas Tuas Mãos)

You Take My Breath Away

Posted in Dos desvarios. on 21/03/2010 by adrianatribal

Marquinhas.

Posted in Livros on 19/03/2010 by adrianatribal
  

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  " A cada dia ele voltava para casa e olhava a mancha no espelho."

   As diversas cores das manchas roxas – do leve rosado até o marrom escuro. O prato que ela foi pegar no outro lado do quarto e, depois de jogar no chão a comida espatifou na cabeça dele, o sangue subindo no meio dos cabelos de palha. O garfo que enterrou atrás de seu ombro, deixando a marca de uma mordida que o médico desconfiou ser de uma raposa.
   Quando a abraçava, verificava que objetos podiam estar ao alcance das mãos dela. Encontrava-a com outros, em público, com manchas roxas ou a cabeça enfaixada e explicava como o táxi tinha dado uma freada e a cabeça tinha batido de encontro à janela. Ou com iodo no antebraço, cobrindo a marca de uma chicotada. Madox ficou preocupado por ele de repente ter se tornado tão propenso a acidentes. Ela fazia força para não rir com suas frágeis explicações. Talvez seja a idade, talvez precise de óculos, disse o marido, cutucando Madox com o cotovelo.Talvez seja alguma mulher que encontrou, disse ela. Olhem isso, não parece arranhão ou mordida de mulher?(…)
"
(Michael Ondaatje, em O Paciente Inglês)

Insomnia

Posted in Não categorizado on 19/03/2010 by adrianatribal

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UN SÁBADO

Un hombre ciego en una casa
hueca
fatiga ciertos limitados rumbos
y toca las paredes que se
alargan
y el cristal de las puertas interiores
y los ásperos lomos
de los libros
vedados a su amor y la apagada
platería que fue de
los mayores
y los grifos del agua y las molduras
y unas vagas
monedas y la llave.
Está solo y no ay nadie en el espejo.
Ir y
venir. La mano roza el borde
del primer anaquel. Sin proponérselo,
se
ha tendido en la cama solitaria
y siente que los actos que ejecuta
interminablemente
en su crepúsculo
obedecen a un juego que no entiende
y que dirige
un dios indescifrable.
En voz alta repite y cadenciosa
fragmentos
de los clásicos y ensaya
variaciones de verbos y de epitetos
y
bien o mal escribe este poema.

(Jorge Luis Borges)

Agito e uso!

Posted in Comidas e bebidas on 18/03/2010 by adrianatribal
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Sou uma moça sem recato

Desacato a autoridade e me dou mal


Sou o que resta da cidade


Respirando liberdade por igual


Viro, reviro, quebro e tusso


Apronto até ficar bem russo


Meu medo e minha coragem


De viver além da margem e não parar


De dar bandeira a vida inteira


Segurando meu cabresto sem frear


Por dentro eu penso em quase tudo


Será que mudo ou não mudo


O mundo, bola tão pequena


Me dá pena mais um filho eu esperar


E o jeito que eu conduzo a vida


Não é tido como a forma popular


Mesmo sabendo que é abuso


Antes de ir, agito e uso

(Angela Rôrô)

Aprendizado.

Posted in Saúde e bem-estar on 08/03/2010 by adrianatribal
https://i0.wp.com/www.infonet.com.br/sysinfonet/images/secretarias/encontros/arranh%C3%A3o.jpg

Recolhimento.

Posted in Dos desvarios. on 05/03/2010 by adrianatribal

 

          Nada.

YouTube – Mais uma vez – Marisa Monte
 

Pétala.

Posted in Dos desvarios. on 03/03/2010 by adrianatribal

Nalgum lugar em que eu nunca estive

Alegremente além

De qualquer experiência

Teus olhos tem o seu silêncio

No teu gesto mais frágil

Há coisas que me encerram

Ou que eu não ouso tocar

Porque estão demasiado perto

Teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra

Embora eu tenha me fechado como dedos

Nalgum lugar

Me abres sempre pétala por pétala

como a primavera abre

Tocando sutilmente, misteriosamente

A sua primeira rosa

Sua primeira rosa

Ou se quiseres me ver fechado

Eu e minha vida

Nos fecharemos belamente, de repente

Assim como o coração desta flor imagina

A neve cuidadosamente descendo em toda a parte

Nada que eu possa perceber neste universo

Iguala o poder de tua intensa fragilidade

Cuja textura

Compele-me com a cor de seus continentes

Restituindo a morte e o sempre

Cada vez que respirar

Não sei dizer o que há em ti que fecha e abre

Só uma parte de mim compreende

Que a voz dos teus olhos

É mais profunda que todas as rosas

Ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas

Ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas.

(E.E.Cummings)